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September
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A Referência Galeria de Arte inaugura a mostra “Gapoiando em águas ribeiras“, do artista visual Osvaldo Gaia, com curadoria de Paulo Vega Jr. Em sua primeira individual em Brasília, o
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A Art Gallery Reference inaugura a mostra “Gapoiando em águas ribeiras“, do artista visual Osvaldo Gaia, com curadoria de Paulo Vega Jr. Em sua primeira individual em Brasília, o artista paraense radicado no Rio de Janeiro apresenta obras inéditas em madeira, metal, linha e acetato para abordar a ancestralidade indígena e cabocla dos povos amazônicos, a lida com a água, a floresta, o alimento, o conhecimento passado de pai para filho. No dia da abertura, o artista e o curador realizam uma visita guiada à mostra que ocupará as salas Principal e Acervo. Visitação até 5 de outubro, de segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 10h às 15h. A Referência Galeria de Arte fica na 202 Norte Bloco B Loja 11, Subsolo, Brasília – DF. Telefone: +55 (61) 3963-3501; WhatsApp: +55 (61) 981-623-111. No Instagram @referenciagaleria.
“Os trabalhos que o artista apresenta na Referência podem ser vistos pela lente da síntese”, afirma o curador. “A produção do artista parte de experiências, objetos e situações reais e de seu contexto de origem para, então, em seu método particular, do insight aos projetos detalhados em seus cadernos de anotações e dos cadernos de anotações à execução de suas obras, resultando no amálgama de elementos de origem intangível e de origem tangível, da imaterialidade e da subjetividade da memória à concretude e fisicalidade da matéria”, continua Paulo Vega Jr.
“Gapoiando” é um termo do caboclo amazônico que se refere ao ato de adentrar no igapó e com as mãos espantar os peixes que se escondem debaixo de mururás, aguapés e vitórias-régias e assim capturá-los com mais facilidade. A palavra deriva de igapó, que significa “Rio de raízes”. Essa prática é bastante comum na região Amazônica e tem forte influência nas comunidades caboclas ribeirinhas, onde muitos encontram sustento na pesca.
Pra onde vão os trens, meu pai? Para Mahal Tamí, Camiri, espaços no mapa, e depois o pai ria: também pra lugar algum meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem tu não te moves de ti.
Tu não te moves de ti, de Hilda Hilst
A mostra é composta por três instalações distribuídas pelos dois andares da Referência. “Mariscando no remanso das escamas” é uma instalação de piso, feita com madeira de demolição, chumbo de tarrafa, acetato, linha e manta. No centro, um círculo simboliza o curral, enquanto na extremidade há uma cortina de chumbo, representando o paradouro de sombra e uma corrente de escamas – camadas que desempenham diversas funções – que protegem e alertam sobre o perigo. “Garateia” é uma instalação de teto, com um tridente de anzóis de madeira de demolição, suspenso por fios e roldanas que sustentam a garateia. Abaixo, uma cúpula de chumbo de tarrafa funciona como uma espécie de armadilha de espera. “Descanso das Chumbadas” é uma instalação de parede, feita de madeira de demolição com chumbadas de chumbo, conectadas por linha em um círculo de madeira, em alusão a um estojo onde os pescadores cuidam de seus apetrechos.
“É como eu estivesse tateando esses saberes”, diz Gaia. “Nesta exposição, o observador terá que ficar atento aos sinais e símbolos que ela carrega. O foco da mostra é revelar alguns desses sinais: a ancestralidade, costumes e saberes, que já fazem parte das minhas pesquisas. Observando os desenhos e a dinâmica dos currais de pesca, percebi que envolvem certa complexidade na sua elaboração e uso; possuem seções, salas, rebatedores e guias que direcionam os peixes. Alguns são construídos por uma família, enquanto outros são erguidos pelas comunidades, com o objetivo comum de obter seu sustento. A atividade pesqueira ainda é uma das maiores fontes de renda dessas comunidades”, completa o artista.
Paulo Vega Jr. afirma que “na produção artística de Gaia, os marcadores da arte popular e da artesania amazônicas têm origem em sua biografia, em sua vivência pessoal como uma criança paraense que cresceu vendo seu avô criando e desenvolvendo utensílios característicos e tradicionais tanto da cultura quanto do modo de vida da região em que ele nasceu e cresceu”.
Esse universo de pertencimento, onde até os cânticos dos pássaros, direcionam e avisam das intempéries, só um conhecedor das matas e um observador, consegue decifrar esses códigos e símbolos. Para sobreviver, é necessário interagir e tratar com respeito a mãe natureza e seus recursos, como um ciclo da vida (metamorfose) constante. Este caminhar nos leva a aguçar os sentidos. “São lembranças afetivas quando meu pai me levava para o sítio do meu avô. Nesse local ele e alguns amigos saiam para caçar. Eu ficava observando o meu avô fazendo e tecendo paneiro, rede de pesca, fazendo canoa, remo… não sabia que aquele universo faria parte do meu aprendizado com artista mais tarde”, completa o artista.
Fazem parte da exposição um conjunto de trinta esculturas e objetos de base e parede que fazem parte desse universo, como Ferroada (madeira e chumbo incrustado, esporão de arraias e ferrões de alguns peixes), Na Luz da Espera (madeira, linha e chumbada, lamparina guia na escuridão da mata), Série Tramas (pranchas de madeiras com adornos e rede de chumbo, tipo rede de pesca, tarrafa) e Tracejado dos Currais (desenhos dos currais feitos com chumbo incrustado na madeira, com silhueta de animais marinhos), entre outros.
Para compreender e se conectar com a obra de Gaia não é necessário ter as “chaves” de um determinado conhecimento nem seguir pistas. Mas os trabalhos guardam visões cosmogônicas que remontam gerações e tradições. “A impermanência e a transitoriedade são dois conceitos que permeiam a poética de Gaia de uma maneira curiosa e interessantemente paradoxal, pois, de certa forma, é contraditório ou impossível materializar algo constante e duradouro sobre exatamente o oposto desses dois conceitos. Assim, o que a obra de Gaia faz, e faz muito bem, é evocar e, talvez, dedilhar a impossibilidade de tratarmos sobre algo que já não é mais o mesmo no instante em que tentamos abordá-lo. Afinal, tudo está em fluxo, em perpétua transformação e, no final das contas, não podemos nos agarrar a nada. Quero dizer, apenas, talvez, às nossas memórias e a nós mesmos” sentencia o curador.
.Service
Exhibition | Gapoiando em águas ribeiras
From September 06nd to October 05th
Monday to Friday from 10:19 to 10:15, Saturday from XNUMX:XNUMX to XNUMX:XNUMX
Period
September 6, 2024 10:00 - October 5, 2024 19:00(GMT-03:00)
Location
Art Gallery Reference
202 North Block B Store 11, Underground Asa Norte – Brasília - DF
October
Details
A Referência Galeria de Arte inaugura a mostra “Gapoiando em águas ribeiras“, do artista visual Osvaldo Gaia, com curadoria de Paulo Vega Jr. Em sua primeira individual em Brasília, o
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A Art Gallery Reference inaugura a mostra “Gapoiando em águas ribeiras“, do artista visual Osvaldo Gaia, com curadoria de Paulo Vega Jr. Em sua primeira individual em Brasília, o artista paraense radicado no Rio de Janeiro apresenta obras inéditas em madeira, metal, linha e acetato para abordar a ancestralidade indígena e cabocla dos povos amazônicos, a lida com a água, a floresta, o alimento, o conhecimento passado de pai para filho. No dia da abertura, o artista e o curador realizam uma visita guiada à mostra que ocupará as salas Principal e Acervo. Visitação até 5 de outubro, de segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 10h às 15h. A Referência Galeria de Arte fica na 202 Norte Bloco B Loja 11, Subsolo, Brasília – DF. Telefone: +55 (61) 3963-3501; WhatsApp: +55 (61) 981-623-111. No Instagram @referenciagaleria.
“Os trabalhos que o artista apresenta na Referência podem ser vistos pela lente da síntese”, afirma o curador. “A produção do artista parte de experiências, objetos e situações reais e de seu contexto de origem para, então, em seu método particular, do insight aos projetos detalhados em seus cadernos de anotações e dos cadernos de anotações à execução de suas obras, resultando no amálgama de elementos de origem intangível e de origem tangível, da imaterialidade e da subjetividade da memória à concretude e fisicalidade da matéria”, continua Paulo Vega Jr.
“Gapoiando” é um termo do caboclo amazônico que se refere ao ato de adentrar no igapó e com as mãos espantar os peixes que se escondem debaixo de mururás, aguapés e vitórias-régias e assim capturá-los com mais facilidade. A palavra deriva de igapó, que significa “Rio de raízes”. Essa prática é bastante comum na região Amazônica e tem forte influência nas comunidades caboclas ribeirinhas, onde muitos encontram sustento na pesca.
Pra onde vão os trens, meu pai? Para Mahal Tamí, Camiri, espaços no mapa, e depois o pai ria: também pra lugar algum meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem tu não te moves de ti.
Tu não te moves de ti, de Hilda Hilst
A mostra é composta por três instalações distribuídas pelos dois andares da Referência. “Mariscando no remanso das escamas” é uma instalação de piso, feita com madeira de demolição, chumbo de tarrafa, acetato, linha e manta. No centro, um círculo simboliza o curral, enquanto na extremidade há uma cortina de chumbo, representando o paradouro de sombra e uma corrente de escamas – camadas que desempenham diversas funções – que protegem e alertam sobre o perigo. “Garateia” é uma instalação de teto, com um tridente de anzóis de madeira de demolição, suspenso por fios e roldanas que sustentam a garateia. Abaixo, uma cúpula de chumbo de tarrafa funciona como uma espécie de armadilha de espera. “Descanso das Chumbadas” é uma instalação de parede, feita de madeira de demolição com chumbadas de chumbo, conectadas por linha em um círculo de madeira, em alusão a um estojo onde os pescadores cuidam de seus apetrechos.
“É como eu estivesse tateando esses saberes”, diz Gaia. “Nesta exposição, o observador terá que ficar atento aos sinais e símbolos que ela carrega. O foco da mostra é revelar alguns desses sinais: a ancestralidade, costumes e saberes, que já fazem parte das minhas pesquisas. Observando os desenhos e a dinâmica dos currais de pesca, percebi que envolvem certa complexidade na sua elaboração e uso; possuem seções, salas, rebatedores e guias que direcionam os peixes. Alguns são construídos por uma família, enquanto outros são erguidos pelas comunidades, com o objetivo comum de obter seu sustento. A atividade pesqueira ainda é uma das maiores fontes de renda dessas comunidades”, completa o artista.
Paulo Vega Jr. afirma que “na produção artística de Gaia, os marcadores da arte popular e da artesania amazônicas têm origem em sua biografia, em sua vivência pessoal como uma criança paraense que cresceu vendo seu avô criando e desenvolvendo utensílios característicos e tradicionais tanto da cultura quanto do modo de vida da região em que ele nasceu e cresceu”.
Esse universo de pertencimento, onde até os cânticos dos pássaros, direcionam e avisam das intempéries, só um conhecedor das matas e um observador, consegue decifrar esses códigos e símbolos. Para sobreviver, é necessário interagir e tratar com respeito a mãe natureza e seus recursos, como um ciclo da vida (metamorfose) constante. Este caminhar nos leva a aguçar os sentidos. “São lembranças afetivas quando meu pai me levava para o sítio do meu avô. Nesse local ele e alguns amigos saiam para caçar. Eu ficava observando o meu avô fazendo e tecendo paneiro, rede de pesca, fazendo canoa, remo… não sabia que aquele universo faria parte do meu aprendizado com artista mais tarde”, completa o artista.
Fazem parte da exposição um conjunto de trinta esculturas e objetos de base e parede que fazem parte desse universo, como Ferroada (madeira e chumbo incrustado, esporão de arraias e ferrões de alguns peixes), Na Luz da Espera (madeira, linha e chumbada, lamparina guia na escuridão da mata), Série Tramas (pranchas de madeiras com adornos e rede de chumbo, tipo rede de pesca, tarrafa) e Tracejado dos Currais (desenhos dos currais feitos com chumbo incrustado na madeira, com silhueta de animais marinhos), entre outros.
Para compreender e se conectar com a obra de Gaia não é necessário ter as “chaves” de um determinado conhecimento nem seguir pistas. Mas os trabalhos guardam visões cosmogônicas que remontam gerações e tradições. “A impermanência e a transitoriedade são dois conceitos que permeiam a poética de Gaia de uma maneira curiosa e interessantemente paradoxal, pois, de certa forma, é contraditório ou impossível materializar algo constante e duradouro sobre exatamente o oposto desses dois conceitos. Assim, o que a obra de Gaia faz, e faz muito bem, é evocar e, talvez, dedilhar a impossibilidade de tratarmos sobre algo que já não é mais o mesmo no instante em que tentamos abordá-lo. Afinal, tudo está em fluxo, em perpétua transformação e, no final das contas, não podemos nos agarrar a nada. Quero dizer, apenas, talvez, às nossas memórias e a nós mesmos” sentencia o curador.
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Exhibition | Gapoiando em águas ribeiras
From September 06nd to October 05th
Monday to Friday from 10:19 to 10:15, Saturday from XNUMX:XNUMX to XNUMX:XNUMX
Period
September 6, 2024 10:00 - October 5, 2024 19:00(GMT-03:00)
Location
Art Gallery Reference
202 North Block B Store 11, Underground Asa Norte – Brasília - DF